Mark Wahlberg se arrepia em "Fim dos Tempos", de Shyamalan

IAN SPELLING
Hollywood Watch


Atualmente todos pensam em Mark Wahlberg como um ator consumado, indicado ao Oscar. Mas é fácil esquecer que, não faz muito tempo, o futuro astro de "Boogie Nights - Prazer Sem Limites" (1997), "Mar em Fúria" (2000), "Uma Saída de Mestre" (2003) e "Os Infiltrados" (2006) era mais conhecido como o problemático durão de Boston que primeiro ganhou fama como Marky Mark, do grupo de rap Marky Mark and the Funky Bunch, e por ser modelo das cuecas Calvin Klein. Naquela época atuar não estava nem mesmo na sua tela de radar.


"Antes da primeira experiência, antes de 'Um Novo Homem' (1994), eu não queria nada com isso", lembra Wahlberg. "Mas depois de passar 20 semanas trabalhando com (a diretora) Penny Marshall e (com o astro) Danny DeVito, senti que encontrei meu espaço."

Capacidade
"Senti que era capaz quando fiz 'Diário de um Adolescente' (1995)", diz Wahlberg, que completou 37 anos em 5 de junho. "Eu estava trabalhando com outro diretor (Scott Kalvert) que me conhecia e me encorajava a ser eu mesmo, a pegar minhas experiências reais e aplicá-las."

Wahlberg está falando por telefone de sua casa, em Los Angeles, para conversar sobre seu mais recente filme, o altamente sigiloso "Fim dos Tempos" (The Happening) do diretor e roteirista M. Night Shyamalan. Além de Wahlberg, estão no elenco Zooey Deschanel e John Leguizamo.

"Night já trabalhou com meu irmão (Donnie Wahlberg) em 'O Sexto Sentido' (1999), e com Joaquin Phoenix e dois outros amigos meus. Nós conversávamos sobre trabalhar juntos, mas ele nunca realmente disse que tinha algo específico para mim. Então, ele telefonou e me disse que tinha escrito este papel para mim e perguntou se estava interessado em lê-lo."

"Eu me encontrei com ele. Nosso jantar durou três horas. Nós sempre nos demos muito bem. Eu li o roteiro e achei que poderia ser algo realmente interessante e desafiador, algo que certamente não tinha feito antes, algo que as pessoas não esperariam de mim."

"Não vi todos os filmes dele", reconhece Wahlberg. "Assisti 'O Sexto Sentido' e 'Sinais' (2002), obviamente, mas realmente não conheço os outros trabalhos dele. Simplesmente mergulhamos nisso."

Sigilo
Tudo isso é um meio de evitar falar qualquer coisa de fato sobre 'Fim dos Tempos', uma trama que é, como de costume nos filmes de Shyamalan, guardada em sigilo.

"É difícil dizer qualquer coisa sem dizer demais", reconhece Wahlberg. "Eu não sei ao certo o que estou autorizado a dizer a você. Interpreto um professor de ciências de uma escola pública na Filadélfia. Sou casado com uma mulher (Deschanel) que é uma jovem terapeuta. Sou um sujeito otimista, extremamente positivo, com uma postura realmente para cima em relação à vida, e ela não sente o mesmo."

"Então, estamos em uma encruzilhada no nosso relacionamento, quando esta coisa acontece e entramos em modo de sobrevivência. Eu não estou tentando salvar o dia, eu não estou correndo por aí com uma capa. Eu estou tentando salvar minha família."

Choque e pavor
Isto pode ser presumido a partir da classificação R (menores de 17 anos só podem entrar acompanhados de pai ou responsável) do filme e de seu trailer assustador, climático e violento: "Fim dos Tempos" é pavoroso e repleto de sangue, e não se esquiva disso.

"Me permita dizer algo, eu me esquivei das cenas mais fortes, porque são muito poderosas. Quando Night as encara, ele vai fundo. Eu fiquei chocado, mas no bom sentido. Eu ainda não assisti a montagem final, mas fiquei empolgado com o que vi."

Shyamalan foi altamente criticado por "A Vila" (2004) e, em particular, por "A Dama na Água" (2006). Neste último ele ignorou os alertas dos executivos da Disney, com os quais tinha trabalhado anteriormente, sobre seu roteiro. Em vez de reconsiderar, ele recorreu à Warner Bros., onde fez o filme - e o fez ao seu modo - apenas para vê-lo ser trucidado pelos críticos e pelo público e afundar como uma rocha na bilheteria.

Wahlberg sabe muito bem que as pessoas amam ou odeiam Shyamalan, e que o mesmo vale para cada um de seus filmes. "Meu irmão, Joaquin e todo mundo que conheço que trabalhou com ele o adora, e fiquei extremamente impressionado. Nós somos grandes amigos e realmente gosto dele, mas no que se refere ao trabalho, eu nunca vi um diretor fazer um filme como ele faz."

"Eu já trabalhei com muitos diretores, e fizemos este filme em cerca de 40 dias. Nós nunca ficamos no set mais do que 10 ou 11 horas -talvez a gente tenha ficado 12 horas em um único dia. Geralmente eram cerca de oito ou nove horas. Nós chegávamos e fazíamos uma cena que alguns diretores poderiam levar três dias, e Night a filmava em três ou quatro tomadas. Ele sabia exatamente o que queria. Entrava no meu trailer e, não só as páginas do roteiro do dia estavam lá, mas também os storyboards."

Fracasso
"Night é um dos poucos sujeitos que vejo lidando com o fracasso, por qualquer motivo que seja, de uma forma que pode apenas melhorá-lo. Ele nunca fica em pânico, apenas mais focado. Ele apenas queria fazer algo diferente, algo mais radical. Os personagens e relacionamentos que se desenvolvem no meio desta coisa gigante que está acontecendo, são muito, muito bem feitos. Eu fiquei altamente impressionado."

O próximo trabalho de Wahlberg é "The Lovely Bones", um drama dirigido por Peter Jackson e baseado no romance de Alice Sebold. Wahlberg interpreta Jack Salmon, o pai de uma jovem garota (Saoirse Ronan) que foi estuprada e assassinada, e que olha do Céu enquanto sua família luta para lidar com sua morte.

Ele recebeu seu papel às pressas, substituindo Ryan Gosling, e teve que lidar com o roteiro profundamente emotivo de uma só vez.

"Eu sou pai e estamos prestes a ter nosso terceiro filho", diz Wahlberg, que tem um filho e uma filha com sua companheira de longa data, a modelo Rhea Durham. "Peter me telefonou e perguntou se eu já tinha lido o roteiro. Uma parte de mim não queria passar por aquela montanha-russa emocional, mas eu o olhei de novo e pensei, 'Isto é algo que devo fazer'."

Novos projetos
"E estou muito, muito feliz por ter feito. Peter não é apenas um dos diretores mais talentosos, mas também é uma das pessoas mais doces que já conheci. Ele e Fran (a co-roteirista e co-produtora Fran Walsh) me receberam muito bem e também me permitiram fazer coisas criativamente que não estavam necessariamente no roteiro ou no livro."

Wahlberg passou diretamente de "The Lovely Bones" para outro projeto, o filme de ação "Max Payne". Outro, "Fighter", começará a ser filmado em setembro. E, como se ele não estivesse ocupado o suficiente, é produtor-executivo de duas séries da HBO, "Entourage" e "In Treatment".

"Eu estou acabado", diz Wahlberg, rindo. "Eu estou simplesmente acabado. Ficar longe de casa é a parte mais difícil. Emocionalmente eu estou um pouco esgotado. Fisicamente, estou treinando para meu próximo filme, 'Fighter', por quase dois anos, de forma que estou pronto para começar. Fisicamente dá para encarar, mas eu simplesmente preciso estar com minha família."

(Tradução: George El Khouri Andolfato)

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