A atriz Julianne Moore, 47 anos, está no Brasil para promover o filme Ensaio sobre a Cegueira, adaptação de Fernando Meirelles do romance de José Saramago para as telonas. Bem-humorada e risonha, a estrela concedeu uma entrevista a jornalistas na tarde desta segunda-feira, no hotel internacional Grand Hyatt, em São Paulo.
"Eu estava tão interessada em Fernando pelos filmes que eu vi que faria tudo por ele, qualquer coisa que ele me pedisse", disse, adiantando que adorou o resultado final da película. "Não tinha nada que eu tiraria ou colocaria", garante.
Apesar da euforia em torno de sua presença, Julianne Moore mostrou-se acostumada com o carinho do povo brasileiro. Pudera. No ano passado, ela esteve em São Paulo para rodar as externas do longa-metragem e foi perseguida pelos curiosos por onde passava.
O assédio não a afastou daqui, pelo contrário. Ela está no País há alguns dias, onde passou as férias com os filhos - Caleb, 10, e Liv, 6 - na Amazônia. "Estou muito empolgada por ter voltado. Gostei tanto do Brasil da última vez, que tive que trazer meus filhos comigo", adiciona.
No tempo em que passou aqui rodando Ensaio sobre a Cegueira, porém, Julianne absorveu pouco do caos da capital paulistana - o trânsito e as diferenças sociais. Ela estava "trancafiada" na fábula de Saramago - que aborda um tipo de caos muito mais dramático em proporções. Embora tenha andado pelo centro e até à beira do rio Pinheiros, com o mal-cheiro característico do local, teve todo o movimento natural da cidade fechado especialmente para a produção.
Quem assistir ao filme se assustará com o modo como São Paulo é mostrada: destruída, decadente e suja. A arquitetura antiga do centro ajudou nessa composição realista. A personagem de Julianne, sem nome como todos os personagens do filme, é parte deste cenário, a única capaz de enxergar (visualmente) o que os humanos, atacados por uma epidemia de cegueira, se tornaram.
Protagonista absoluta da produção, a atriz se desfez de certas vaidades. A pedido do diretor, engordou e cortou o cabelo, mas não quis se desfazer das madeixas naturais, loiras. "Eu disse para o Fernando (Meirelles) que seria bom se minha personagem fosse loira e ele vetou porque queria que meus cabelos estivessem da cor natural. O que ele não sabia é que meus cabelos são loiros naturais."
O diretor aceitou o visual loiro, o que deu um plus ao filme. A fotografia, branca e cheia de transparências, ajudou a personagem a parecer mais angelical. Na tela, a atriz aparece por vezes feia, sem maquiagem, com o olhar cansado, e em outras friamente ingênua, sorridente.
"Quando se constrói uma personagem, normalmente a gente pensa em como vai montá-la. Com esse filme, a idéia era justamente não saber como ela reagiria naquela situação. Assim como o público, eu não tinha idéia onde aquilo ia chegar", conta Julianne.
A relação com a equipe parece ter sido satisfatória. Nos intervalos das filmagens, seus dois filhos brincaram muito com Kiko, filho de Meirelles, e Mitchell Nye, um dos meninos presentes no elenco.
"Sabíamos que o filme teria um tom obscuro, mas nem as sete semanas de filmagem fizeram a gente absorver isso. Nos demos muito bem, era um clima de amizade muito grande", explica a atriz.
A brasileira Alice Braga, que também está no elenco, disse que as cenas finais do longa mostravam exatamente aquilo que os atores estavam sentindo. "Éramos uma família naquele momento, tínhamos intimidade", relembra.
A situação caótica do filme também garantiu uns pontos na carreira de Julianne, segundo ela, que tem em seu currículo projetos elogiados como As Horas e Filhos da Esperança. Garantindo que o romance de Saramago não é inverossímil, a atriz ousa até mesmo fazer alusões políticas em relação à obra.
"Em uma situação como essa, temos o instinto de fazer qualquer coisa. Inicialmente, as pessoas acreditam no governo, que saberia resolver o problema, mas a história comprova que tudo acaba em guerra", garante. "Parece que no caos anunciado, algum tipo de herói, como o Bruce Willis, vai chegar e resolver a situação. As pessoas pensam: 'se ela é capaz de enxergar, porque não toma a frente da situação?'. Mas eu não sou o Batman", compara ela.
Ensaio sobre a Cegueira estréia nos cinemas brasileiros no dia 12 de setembro.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário